A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu apertar o controle sobre medicamentos usados para emagrecer, como Ozempic, Wegovy, Saxenda e Mounjaro.
Eles foram criados originalmente para tratar diabetes tipo 2 e, em alguns casos, obesidade. Mas o uso por conta própria, apenas para “perder uns quilinhos”, virou moda — e também motivo de preocupação entre médicos e autoridades de saúde.
Neste post, você vai entender o que mudou, por que a Anvisa criou novas regras e por que é tão importante ter acompanhamento médico de verdade antes de começar o tratamento.
O Que Mudou: receita obrigatória e controle rigoroso
Desde junho de 2025, a Anvisa colocou em prática novas regras para os chamados agonistas GLP-1 e GIP/GLP-1, como a tirzepatida (Mounjaro), a semaglutida (Ozempic, Wegovy) e a liraglutida (Saxenda).
Agora, esses medicamentos passam a seguir o mesmo tipo de controle de antibióticos e outros medicamentos sob controle especial — tudo para evitar o uso sem prescrição.
Veja o que muda:
- Receita em duas vias: o médico emite duas cópias da receita — uma fica com o paciente e a outra é retida na farmácia.
- Validade de 90 dias: depois desse prazo, a receita perde a validade.Porém, é importante dizer que o paciente consegue fazer a compra para 3 meses de tratamento com a mesma receita.
- Rastreabilidade: a compra é registrada pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), permitindo à vigilância sanitária rastrear quem compra, com que frequência e em qual dose.
Essas medidas têm um objetivo claro: reduzir o uso indiscriminado e estético desses medicamentos, que vêm sendo usados sem critério médico.
Por que a Anvisa mudou as regras de compra do Mounjaro?
A decisão não foi à toa. Entre 2022 e 2024, o número de notificações de efeitos colaterais graves com esses medicamentos aumentou 340% no Brasil.
Os casos mais frequentes envolvem:
- Pancreatite aguda,
- Desidratação severa,
- Obstrução intestinal,
- Lesão renal aguda.
Segundo dados da própria Anvisa, mais de 60% das vendas de tirzepatida em 2024 foram feitas para pessoas sem diagnóstico de obesidade — o que mostra o tamanho do uso fora da bula.
Esses medicamentos funcionam, mas exigem monitoramento médico constante. A tirzepatida, por exemplo, age em múltiplos receptores hormonais (GIP e GLP-1) e pode alterar glicose, apetite e digestão — efeitos potentes, mas que precisam ser ajustados profissionalmente.
🔗 Veja os dados completos no site da Anvisa
Mounjaro: uso e indicações aprovadas pela Anvisa
O Mounjaro (nome comercial da tirzepatida) tem duas aprovações no Brasil:
- Tratamento do diabetes tipo 2 – como adjuvante à dieta e exercícios;
- Tratamento da obesidade – indicado para pessoas com IMC ≥30 ou IMC ≥27 com comorbidades, como hipertensão, diabetes ou apneia do sono.
Os estudos clínicos (como o SURMOUNT-1, publicado no New England Journal of Medicine) mostraram resultados expressivos: perda média de até 20,9% do peso corporal após 72 semanas em dose de 15 mg. Mas vale lembrar: todos os participantes também seguiram orientação alimentar e prática de atividade física. Sem isso, os resultados caem bastante.
Quem pode prescrever o Mounjaro
Apenas médicos podem prescrever tirzepatida e, geralmente, quem conduz esse tipo de tratamento são:
- Endocrinologistas, que têm mais experiência com obesidade e diabetes tipo 2;
- Clínicos gerais capacitados;
- Médicos de família, em casos acompanhados de perto.
Antes da prescrição, o médico avalia:
- Seu IMC e histórico clínico,
- Possíveis contraindicações (como histórico de carcinoma medular de tireoide ou pancreatite).
- E exames de sangue para checar função renal e hepática.
Essas etapas não são “burocracia”: são a diferença entre um tratamento seguro e eficaz e um risco desnecessário.
Tipo de receita necessária
Para comprar Mounjaro, Ozempic, Wegovy ou Saxenda, é preciso apresentar receita branca de controle especial, emitida em duas vias.
A prescrição pode ser física ou digital, desde que tenha:
- Assinatura e CRM do médico,
- Dados do paciente e do medicamento (nome, dose, quantidade),
- E, no caso de receita digital, certificado e QR code de validação.
Outro dado importante: a prescrição do GLP-1 não pode estar na mesma receita que um psicotrópico, nesses casos são necessárias receitas diferentes. Isso porque a farmácia precisa reter uma cópia e registrar a venda no sistema da Anvisa — o que garante a rastreabilidade e segurança do uso.
Efeitos Colaterais: por Que o acompanhamento médico é essencial
Os efeitos adversos mais comuns são náusea, diarréia, azia, estufamento, constipação e dor abdominal — geralmente leves e temporários.
Esses riscos explicam por que a tirzepatida não pode ser usada sem orientação médica. O médico acompanha a adaptação da dose e orienta sobre o que fazer se surgirem sintomas incômodos.
🔗 Veja as orientações da Anvisa sobre segurança de uso
Mounjaro é tratamento contínuo: o que isso significa
O estudo SURMOUNT-4 testou o que acontece quando o uso do Mounajro é interrompido. O resultado?
- Quem continuou o tratamento, perdeu até 25% do peso total.
- Quem parou, recuperou cerca de 14% do peso.
Ou seja: a obesidade é uma doença crônica. O remédio ajuda a controlar, mas não “cura”. Assim como um hipertenso precisa manter o tratamento, o paciente com obesidade precisa seguimento e plano de longo prazo.
E claro, o custo e o acompanhamento médico precisam ser considerados desde o início.
Conclusão: segurança é o que leva ao resultado
Remédios como Mounjaro, Ozempic, Wegovy e Saxenda podem ser aliados poderosos contra obesidade e diabetes — quando usados com prescrição médica e acompanhamento contínuo.
A nova regra da Anvisa não é um obstáculo: é uma proteção para que esses tratamentos sejam usados da forma certa, com segurança, resultado e acompanhamento responsável.
Se estiver pensando em começar um tratamento com GLP-1, converse com um médico. Só ele pode indicar a dose certa, avaliar riscos e montar um plano que faça sentido pra você.
Para saber se há indicação de algum tratamento para emagrecer, a Voy Saúde disponibiliza acesso a médicos para uma avaliação online no site www.voysaude.com.
- Brasil. Ministério da Saúde. VIGITEL 2023 - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília, 2024.
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